quarta-feira, 28 de julho de 2010

Parte 2


[dos meus ouvidos]

Fui feito para ouvir sua música,
para interpretar silêncio e ansiar por sua chegada.

Confundo sons e razão?
Eu sou dúvida!

E não julgo necessária a melodia de seus lábios
- e tampouco presente a vibração de seus passos -
para conhecer o encanto que aguarda.

... já estou encantado.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Parte 1


[dos meus olhos]

Mesmo agora, sem rosto e forma,
és dona de meu calor e detentora de meu coração.

O que será de mim, então, quando puser meus olhos em ti?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lâmina d'água


As formas que escolho para expressar idéias e vontades, reconheço, não são as melhores. E tampouco há em mim qualquer ilusão sobre conteúdo, virtudes e defeitos. Sei deles. Convido com eles. Sou eles. E quanto aos adjetivos proferidos por seus lábios, tomo-os por fiéis à minha imagem tamanho seu conhecimento sobre mim - não irei discordar.

Sou transparente. E quando quero esconder-me atrás de qualquer aparência, argumento ou razão, fracasso. Chego a ser tão correto que mesmo inconscientemente não consigo trair minha virtude. Não consigo fazer-me outro. E apesar de minhas intenções iniciais, felicito-me por tal feito. Em essência serei sempre o mesmo.

Inconstante e confuso que sou, gostaria de mais uma vez versar sobre meu eu, que permite variações na forma e no jeito, mas que mantém o que é de verdade à sete chaves. Imutável pelo vai e vem de minhas ondas e pela temperatura de minhas partículas.

Como uma lâmina d'água, sou translúcido, visível, raso e evidente, porém misterioso e inesperado como qualquer gota do oceano.

Peço as mais sinceras e profundas desculpas por isso.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Miragem


Somos muitos.
Mas, do muito que somos, poucos sabem realmente ser o que se é, descobrir-se como evento único de proporções fantásticas e entender-se, acima de tudo, como pouco, simples e frágil perante a complexidade do todo.

Somos raros.
Mas, de todos esses raros, muitos são mesclas exatas, cópias forçadas e imagens vazias de outros. De outras formas de viver o mesmo, de interpretar futilidades e de desperdiçar tempo - fagulhas de sentido e razão soltas ao nada.

Somos gente que sente, que ri, que fala, que sofre. Que na grandeza do sonho, cresce. E que na ânsia de aprender, ensina. Somos gente imperfeita. Gente que ora se intimida pela enormidade dos obstáculos, ora encontra nos lugares mais inesperados motivos para sorrir. No dia e noite, no inverno e verão.

Somos, como eu, gente que faz com que tudo pareça ser o que não é. Capaz de pensar, criticar, escrever. Mas com uma enorme dificuldade em transformar palavras em ações, conhecimentos em práticas.

Somos instáveis e incertos. Somos miragem.